UMA VIAGEM INESQUECÍVEL AO ALASKA
Uma aventura de mar e gelo, partilhada com amigos e marcada por descobertas surpreendentes e pela imensidão de uma natureza avassaladora. Assim foi o nosso cruzeiro ao Alaska a bordo do majestoso Ruby Princess, uma experiência que não só nos recordou a nossa pequenez perante a grandiosidade do planeta, como também nos mostrou o melhor da hospitalidade humana.
A nossa jornada começou na icónica cidade de São Francisco, cujas luzes cintilantes nos saudaram à partida, um porto que para nós, imigrantes de longa data, representa mais de meio século de vida. Na nossa companhia, os queridos amigos José e Ilda Ávila, proprietários do conceituado Jornal Tribuna Portuguesa na Califórnia, tornaram a viagem ainda mais especial. Deixar a baía de São Francisco, com a Golden Gate a erguer-se imponente, foi o prelúdio perfeito para as maravilhas que nos aguardavam a norte.
Desde o primeiro momento a bordo, fomos envolvidos por um ambiente de conforto e atenção excepcionais. É imperativo destacar a delicadeza de todos os empregados a bordo do Ruby Princess. A sua eficácia e rapidez no serviço são verdadeiramente impressionantes. Com um sorriso constante, estavam sempre prontos a fazer tudo para que cada passageiro se sentisse satisfeito, transformando a nossa estadia numa experiência de puro deleite e tranquilidade. Esta excelência no serviço permitiu-nos apreciar ainda mais a beleza estonteante do Alaska. A chegada a Juneau, a capital, revelou-se um espetáculo de cortar a respiração. As montanhas verdejantes, de uma magnitude que as fotografias não conseguem captar, coroadas por picos nevados, mergulhavam em fiordes de um azul profundo e cristalino. Era a natureza no seu estado mais puro e grandioso, um cenário que nos acolheu e nos preparou para a beleza selvagem do estado.
De Juneau, navegamos para a histórica cidade de Skagway, um portal para a febre do ouro do Klondike. Foi aqui que, num local improvável, tivemos uma das maiores surpresas da nossa viagem. No Red Onion Saloon, um estabelecimento que remonta a 1897 e que, nos seus primórdios, funcionou como um bordel para os garimpeiros, encontrámos um pedaço de Portugal: o vinho verde da marca Aveleda. Num lugar tão distante da nossa terra natal, saborear este
vinho familiar foi um momento de alegria e nostalgia, uma prova de que as raízes portuguesas se espalham pelos cantos mais inesperados do mundo.
O ponto alto da nossa expedição foi, sem dúvida, a visita à Baía dos Glaciares (Glacier Bay), uma das maravilhas da natureza no seu estado mais puro e imponente. A visão dos glaciares a desaguarem no mar, comosomdogeloaquebrareacairnaágua,éuma sinfonia que ecoará para sempre na nossa memória. Observar a imensidão de gelo, com partes de uma tonalidade mais escura, levou-me a refletir. Acredito que essa cor negra seja o resultado de fumos de incêndios florestais ocorridos há milénios, cujas cinzas foram preservadas no gelo, um testemunho silencioso da história do nosso planeta, assim como detritos amontoados pela raspagem do gelo contra as rochas. Neste santuário natural, tivemos ainda o privilégio de avistar cabras selvagens nas encostas íngremes e, à distância, um urso a percorrer a sua vastidão.
A viagem para a Ilha de Prince Rupert, na Colúmbia Britânica, Canadá, trouxe-nos outro encontro emocionante. A visão de duas baleias a emergirem graciosamente daságuasfriasea borrifar,transportounos de imediato para o mar dos Açores, reavivando memórias da nossa herança insular. Uma majestosa águia pousada numa torre, vários corvos e até pombas percorriam as ruas procurando algum alimento. Prince Rupert revelou-se uma paragem encantadora, com a sua atmosfera tranquila e paisagens pitorescas. Ao longo das nossas paragens em terra, não perdemos a oportunidade de nos deliciarmos com a culinária local. O salmão, em particular, destacou-se como o meu prato favorito, preparado de diversas formas, sempre fresco e saboroso, um verdadeiro reflexo da riqueza das águas do Alaska.
O regresso a São Francisco foi agraciado com mais avistamentos de baleias já na costa da Califórnia, provavelmente na sua migração anual para norte. Rever as luzes da cidade que nos acolheu há mais de cinquenta anos foi um regresso a casa, um sentimento de conforto após uma viagem por terras tão selvagens e remotas.
Este cruzeiro ao Alaska foi mais do que umas simples férias. Foi uma lição de humildade, uma oportunidade paratestemunharaforçaeabelezadanatureza em estado bruto e para refletir sobre o nosso lugar no mundo. É, sem dúvida, uma experiência que nos mostra o quão pequenos somos perante a imensidão e a majestade do nosso planeta. A nossa viagem ao Alaska ficará para sempre na minha memória.






Sem comentários:
Enviar um comentário