NÃO ESQUEÇA DE LAVAR OS VEGETAIS E… VIVA À FESTA
Raramente vou sozinho às compras. Ou vamos juntos,eueaminha mulher, ou ela vai sozinha. Ultimamente, porém, tenho ido só e assisti a uma cena num enorme supermercado
que me deu que pensar.
Uma velhinha estava a escolher batatas, e algumas rolaram e caíram no chão. Sem se preocupar, ela apanhouas e colocou-as de volta na prateleira. Uma empregada deu-lhe uma grande descompostura, dizendo-lhe que aquilo não se fazia.
Eu não me pude calar e intervi: — Olhe, não tinha que ser tão rígida com a senhora. Você não lava os vegetais,
legumes ou hortaliças antes de os pôr na panela? E qual é a diferença entre apanhar as batatas, levá-las para o depósito dos géneros, e depois voltar a colocá-las na prateleira?
A única diferença, na minha opinião, é que ninguém teria visto a manobra e o caso estaria resolvido. Para outra vez, não faça isso, especialmente com uma pessoa idosa. Junte as batatas, leveas, traga-as de volta sem que ninguém veja, e pronto.
Ela ficou um pouco embaraçada, tirou as batatas e, com um sorriso meio amarelo, foi embora. A velhinha, que é
quem tinha razão, agradeceu-me.
Legumes, Hortaliças e os Mistérios da Botânica
Já que comecei esta cantilena, e todos nós falamos sobre vegetais, é bom pôr as coisas em ordem. LEGUMES
Legume é a categoria que inclui as partes comestíveis da planta que não são folha, como raízes, sementes, vagens e tubérculos.
Sementes/Vagens: Lentilhas, feijão de várias qualidades, e ervilhas.
As lentilhas, por exemplo, são pequenas sementes comestíveis, ricas em proteínas e fibras.
O feijão-frade, que tem aquele “olho” preto que parece o hábito de um
monge, é um exemplo curioso. O seu nome advém do latim frater (irmão), talvez por ter sido cultivado pela primeira vez num convento.
Temos ainda o grão-de-bico (que aparece muito num prato de bacalhau), a sojaeoamendoim.
HORTALIÇAS
As Hortaliças são as partes verdes e frescas (folhas, flores e caules tenros) que são cultivadas na horta.
Exemplos: Alfaces, couves,espinafres e espargos. As cenouras, que são raízes, pertencem biologicamente à família, mas na culinária são tipicamente
agrupadas com os legumes.
O CASO CURIOSO DO ESPARGO Os espargos são outra hortaliça interessante. Embora muitas pessoas pensem que comemos a raiz por ele nascer do subsolo, na verdade, estamos a consumir os seus caules jovens e tenros – os rebentos da planta (chamados turmas) que emergem da terra. Se estes rebentos não fossem colhidos, continuariam a crescer, transformando-se num caule duro e lenhoso. A verdadeira raiz (rizoma) do espargo fica enterrada para garantir que a planta volte a brotar no próximo ano.
O TOMATE: FRUTO DISFARÇADO
Os tomates são um caso muito interessante. Há quem os considere legumes
ou hortaliças, mas, botanicamente falando, são um fruto, pois nascem de uma flor e contêm as sementes da planta.
Já agora, falando em flores, talvez muita gente não saiba que os figos também não são frutos no sentido estrito. O que comemos são as partes transformadas da flor, numa estrutura invertida chamada sicônio.
A Lição dos Tubérculos
Ainda dentro dos legumes, temos os tubérculos e as raízes tuberosas (que não têm nada a ver com tuberculose!).
Quais as diferenças?
Tubérculos (ex: Batata Comum): A parte desenvolvida para acumular energia é o caule subterrâneo. Os “olhos” da batata são os brotos desse caule. Raízes Tuberosas (ex: Batata-Doce, Cenoura): Os nutrientes são acumulados dentro da própria raiz. É uma raiz que engordou. A batata-doce não tem os “olhos” da batata comum, crescendo a partir do topo da raiz, o que comprova a sua diferença botânica.
Bulbos (ex: Cebola e Alho): O bulbo também armazena energia no seu caule, mas este tem um formato de disco (o “prato”), e as partes comestíveis são as folhas modificadas em camadas.
Depois desta lenga-lenga, que de forma
alguma é precisa para fazer uma salada ou cozinhar um bom bacalhau com batatas a murro, pensei que talvez alguém tivesse curiosidade em saber essas diferenças.
De qualquer forma, acho que esta ciência não fará com que o prato fique mais ou menos saboroso. O que importa é que as receitas Portuguesas são simples: um bocadinho disto, um pouco daquilo, uns pingos de azeite e vinagre, com um copo de bom vinho, mas não esqueça de lavar os vegetais e viva à Festa!




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