CIMEIRA DAS CIDADES IRMÃS EM PONTA DELGADA, AÇORES: FORTALECENDO LAÇOS TRANSATLÂNTICOS
Cimeira das Cidades Irmãs (Sister Cities Summit), realizada em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, Açores, entre 25 e 27 de junho de 2025, representou um evento de relevância internacional. Este encontro reuniu representantes de cidades e municípios geminados de Portugal
e dos Estados Unidos da América, com a principal finalidade de celebrar e reforçar a relação bilateral entre os dois países, destacando os laços históricos e a importância da cooperação transatlântica. O evento visou, em particular, reconhecer e valorizar a profundidade dessas relações.
A organização da Cimeira foi uma iniciativa conjunta da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e do Governo dos Açores. A sua realização integrou as celebrações do 40.º aniversário da FLAD, conferindo ao evento um estatuto elevado. O patrocínio do Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhou a prioridade estratégica nacional de Portugal em solidificar a sua relação com os Estados Unidos através de uma diplomacia de base, que se estende aos níveis locais. Esta abordagem demonstrou uma intenção deliberada de infundir o evento com maior peso político e diplomático, utilizando o conceito de “Cidades Irmãs” como uma alavanca estratégica para fortalecer os laços bilaterais mais amplos, especialmente considerando as preocupações relacionadas com a nova administração norte-americana. Ponta Delgada, com o Teatro Micaelense como um dos locais centrais, foi a cidade anfitriã.
A FLAD, criada em 20 de maio de 1985, como resultado direto do Acordo de Cooperação e Defesa de 1983 entre Portugal e os Estados Unidos, tem desempenhado um papel fundamental no fomento das relações entre os dois países. Este acordo abrange disposições de apoio militar, económico e energético, com destaque para a contínua presença dos EUA na Base Aérea das Lajes, nos Açores. A origem da FLAD, ligada a um acordo de defesa, revela que a iniciativa das “Cidades Irmãs”, embora pareça uma forma de diplomacia suave, está intrinsecamente enraizada e serve interesses geopolíticos estratégicos, cultivando laços culturais e económicos para apoiar parcerias mais amplas de segurança e defesa. O Consulado dos EUA em Ponta Delgada, reconhecido como o “consulado mais antigo do mundo com funcionamento ininterrupto”, celebrou 230 anos de relações, sublinhando os laços profundos e de longa data entre os Açores e os Estados Unidos. A cimeira incluiu um momento de homenagem a este aniversário, acentuando a sua importância histórica e estratégica.
A imigração portuguesa também desempenha um papel crucial. Existem atualmente cerca de 60 acordos de geminação entre cidades portuguesas (incluindo as dos Açores) e cidades dos EUA, com aproximadamente 40 cidades norte-americanas envolvidas, cujas localizações frequentemente refletem o movimento histórico de imigrantes portugueses. Cidades dos EUA com uma significativa herança luso-americana, como Fall River, New Bedford, Newark, Providence, Sausalito e San José, foram convidadas a enviar delegações. Mais de 1,3 milhões de indivíduos de ascendência portuguesa, a maioria com raízes nos Açores, residem nos Estados Unidos, formando um “elo vital que une ambos os países, promovendo a compreensãomútuaeacooperação”.Esta“diplomacia cidadã” cria uma rede robusta, de baixo para cima, que pode sustentar as relações mesmo quando as dinâmicas políticas de cima para baixo enfrentam desafios.
O objetivo primordial da Cimeira foi promover a cooperação transatlântica, procurando “criar e fortalecer redes entre diferentes cidades em diversas dimensões (cultura, sociedade, economia, educação e ciência, entre outras)”, e reavivar acordos de geminação já existentes. A Cimeira teve como propósito impulsionar a colaboração económica, a diplomacia culturaleoenvolvimentojuvenil.Asáreasespecíficas
de discussão incluíram as melhores práticas em cooperação municipal internacional, intercâmbio cultural e desenvolvimento turístico, capacitação juvenil e educação cívica, e investimento. A localização estratégica dos Açores foi destacada como um fator de apoio a parcerias nas áreas da defesa e economia,fortalecendoasegurançaeaprosperidade de ambos os continentes. Foram realçadas oportunidades em exportações de produtos sustentáveis e de alta qualidade, cooperação científica no Atlântico, fontes de energia renovável e tecnologias marinhas. O Presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, salientou que “num mundo em constante mudança, onde a ordem global está a sofrer convulsões, o melhor e mais seguro caminho para o progresso e desenvolvimento dos povos é o diálogo e a cooperação entre as comunidades”. Ele expressou o desejo de “aprofundar estas relações” e “superar adistânciageográficaeanossapequenadimensão”, vendo“omareoespaço”comoo“nossocaminho rápido para o mundo, para a América, para o desenvolvimento”.
A Cimeira reuniu líderes governamentais locais e nacionais, incluindo o Presidente português Marcelo
Rebelo de Sousa, legisladores, organizadores cívicos e representantes juvenis de Portugal e dos Estados Unidos. Entre os participantes notáveis encontravam se Nuno Morais Sarmento (Presidente da FLAD), José Manuel Bolieiro (Presidente do Governo dos Açores), Francisco Duarte Lopes (Embaixador de Portugal nos EUA) e Douglas A. Koneff (Encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA em Portugal). Mais de 30 cidades e municípios de ambos os lados do Atlântico estiveram representados. A cerimónia de encerramento contou com uma intervenção de José Manuel Durão Barroso, antigo Presidente da Comissão Europeia e Primeiro-Ministro de Portugal. As sessões contaram com introduções de figuras como Piedade Lalanda (Presidente do Conselho Económico e Social dos Açores), Gui Menezes (Diretor do OKEANOS – Instituto de Investigação em Ciências do Mar da Universidade dos Açores) e Diniz Borges (Diretor do Portuguese Beyond Borders Institute da Califórnia State University). Um “Concerto das Cidades Irmãs” com FADO alado e a Orquestra Ligeira de Ponta Delgada também fez parte do programa.
No intervalo das sessões houve sempre um beberete com vinhos, variadíssimos aperitivos e vários refrigerantes.
Além disso, deve-se realçar o jantar típico no Solar da Graça onde o grupo Folclórico da Fajã de Baixo cantou várias modas, o almoço no anfiteatro Portas do Mar, o cocktail oferecido pelo Presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, no Palácio da Conceição, o passeio às Furnas e um belo Cozido à Portuguesa no Hotel Terra Nostra. Os Açores são descritos como possuindo uma “vocação natural como ponto de encontro e de intercâmbio de pessoas e culturas” devido à sua localização estratégica, o que tem historicamente apoiado “parcerias importantes nas áreas da defesa e da economia, reforçando asegurançaeaprosperidadedeambosos continentes”. A Cimeira das Cidades Irmãs em Ponta Delgada serviu como um poderoso lembrete da duradoura relação entre Portugal e os Estados Unidos, constituindo uma plataforma indispensável para o fortalecimento das relações entre cidades e vilas.
A maneira como as sessões ocorreram, a forma requintada como tudo foi programado e preparado, e a eloquência dos participantes nos seus discursos ou intervenções, provou, sem dúvida alguma, que os Açores são o fulcro da alavanca entre Portugal e os Estados Unidos da América.


















